Opinião: Quatro milhões e meio de pobres: inflação e desvario
Volto hoje à inflação pelas suas caraterísticas insidiosas e raramente compreendidas, e que está a causar efeitos devastadores nas famílias portuguesas. Provavelmente, estamos a assistir a um dos maiores ataques aos recursos familiares dos portugueses. Mais ainda, a iliteracia financeira impede as pessoas de compreenderem e de se darem conta do efeito destruidor sobre as suas vidas, quando a dialética salários nominais/reais/inflação é utilizada para, de forma inaceitável, manipular os cidadãos, impedindo-os de anteciparem medidas mais sensatas e prudentes de condução da sua vida pessoal.
A inflação tem esta particularidade: quando sobe, os preços sobem e quando desce, os preços continuam a subir. Finalmente, quando desaparece, os preços mantêm-se altos, ou seja, não se regressa à casa de partida. Os efeitos da inflação vêm para ficar.
Um governante responsável deve adotar uma posição igualmente responsável e educativa, que, para além de falar verdade às pessoas, ajude a melhorar a sua literacia financeira. Pelo contrário, quando se diz às pessoas que este ano terão os maiores aumentos da década ou até do século (para alguns pode ser), está-se a contribuir para a iliteracia dos cidadãos e para reforçar a sua incapacidade de tomar decisões que protejam a sua vida e as suas finanças pessoais. Na verdade, a maior parte das famílias portuguesas estará a enfrentar perdas salariais históricas.
Esta situação e este comportamento é duplamente grave. Desde logo, poderemos estar a assistir a uma das perdas de poder de compra mais impressionantes de que há memória: em 2023 os salários reais estarão ao nível de 2014, e suspeito que com o efeito fiscal o resultado possa ser ainda mais destrutivo. Ao mesmo tempo, as empresas estão a aumentar preços e lucros que levaram à estranha situação de se legislar para tributar lucros extraordinários. Finalmente, pasme-se, as receitas fiscais atingem valores record, poderão ter aumentado mais de 20% e estaremos perante a maior carga fiscal de sempre.
Qual foi, no final de contas, o único perdedor desta equação: O cidadão… as famílias… os trabalhadores.
Qual está a ser, afinal, o resultado mais evidente deste processo: o aumento do número de pobres e o aumento das “dádivas do governo” a este exército de reserva, controlado e domesticado, que sobrevive de migalhas, nas franjas da sociedade.
Note-se que com o efeito combinado de crescimento da economia (acima dos 6%, porque fomos os últimos a recuperar da pandemia) e da inflação (próxima dos 10%), nós teremos um crescimento nominal da economia superior a 16%. Pergunta: não havia aqui espaço para uma subida mais robusta dos salários, ou para uma descida sensível dos impostos?
A minha segunda questão: neste momento teremos sensivelmente 4,5 milhões pobres. E quando forem 6 milhões? Já pensaram que não haverá portugueses suficientes para esmagar com impostos e acorrer a ajudar estes cidadãos, como bem necessitam e merecem?



Comentário ao título da notícia (sem ler o conteúdo da mesma, dado ser previsível que seja uma terraplanagem completa com zorras e buldozers)… Somos o país que somos porque temos um sistema de ensino medíocre que compara com o de melhor que há no Burkina Faso ou no Lesotho…